sábado, 22 de novembro de 2008

DO LIVRO DE HORAS DE SÓROR DOLOROSA
SANTA CLARA DE ASSIS

Eu não cultivo pássaros azulados em gaiolas de ouro:
rebebo, sim, o encharcar dos brejos,
aí se me acordo, suspendo uma folhagem.
Sob o chuvoso arco do mosteiro
se deu o que se deu --- o isto é! ---
avanço pela escadaria de pedra para espiar
parada, imersa na luz, Santa Clara de Assis.
Eu respiro o sono tempestuoso
das lianas durante o vendaval:
eu sou
o ferrão escuro do escorpião
eu sou
a cantaria barroca e o sino:
queimo com as palavras ferro e brasa
a pele translúcida dos anjos.

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