quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O pequeno inseto com asas brancas descerra a porta de aço maciço. O insignificante, o mínimo, o quantum descerram a porta maciça.

Aqui, no Templo de Sat, Eu, o arqueiro quântico, empunho o Arco, a Flecha e recito: tenho o dom de atrair o acontecimento de acasos felizes.

Diz o Buddha:

“Antes que a primeira vela

se acendesse,

a vela já estava acesa”.

Nessa hora sem sombra, ignoro tudo na arte em que sou exímio. Apenas contemplo puramente o alvo.

Algo dispara, algo acerta. Algo: a essência de uma coisa.

O mérito desse tiro, no entanto, não me pertence, pois ao permanecer esquecido de mim mesmo e de toda intenção, no estado de tensão máxima, o disparo foi realizado pelo Algo que, tal qual uma fruta madura, caiu.

Só o que escuto é um zunir que perfura o ar:

Algo dispara a flecha,

algo acerta o alvo.

Mas Algo também diz, se afinarmos a escuta:

Algo diz pára de sofrer,

diz pára de mentir,

diz pára de ter ressentimento,

diz pára de baixo-estima

e algo acerta o alvo.

O ponto em que a coisa-em-si (o Átman: o indestrutível) entra mais imediatamente no fenômeno é aquele em que a consciência (mente sem pensamentos) ilumina a Vontade.

Mente: consciência com pensamentos.

Sono, sonho, vigília.

A psique (alma), para os gregos, significa: inseto, mulher bonita, sopro.

O pequeno inseto com asas brancas descerra a porta de aço maciço. O insignificante, o mínimo, o quantum descerram a porta maciça.

Ou como dizia Paulo Leminsky: “E no interior do mais pequeno abre-se profundo a flor do espaço mais imenso”

O que é o quantum? A menor medida possível da matéria, que não pode ser subdividida em nada menor. Segundo Stephen Hawking, quantum é “a unidade indivisível em que as ondas podem ser emitidas ou absorvidas”.


O texto acima é fragmento do livro

"O arqueiro quântico",

de Fernando José Karl

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