sábado, 31 de janeiro de 2009

Schopenhauer (1788-1860)

Há um pensamento do filósofo alemão Schopenhauer, que li em "O Mundo como Vontade e Representação", que reza assim:

O ponto em que a Coisa-em-si entra mais imediatamente no fenômeno é aquele em que a consciência ilumina a Vontade.

A Vontade é, para Schopenhaeur, irracional. A Vontade, no fundo, não sabe o que quer. E, para educá-la, só há uma saída: focarmos as coisas que nos cercam (ou as coisas que imaginamos) com o Vazio da contemplação tranqüila, sem intenção, desapegada.

Segundo Kenzo Awa, mestre do Kyudô (Caminho do Arco), se quisermos acertar o alvo, devemos proceder assim: “Na máxima tensão, sem intenção”.

Algo dispara a flecha, Algo acerta o alvo.

Algo: outro nome para o Deus, para a quintessência.

Mas também Algo

diz pára de ressentimento

diz pára de medo

diz pára de mentir

diz pára de sofrer

diz pára de desamor

diz pára de pobreza

O Eu, que só será Eu se for um Vazio reverente, se torna o claro espelho do objeto. Wu wei: ação na não ação. Noutras palavras, o Eu deixa fluir, reverente, o Algo que o rege no íntimo; o Eu não se intromete, deixa a onda jorrar, a música ser música.

Vazio (Capítulo 1 do Tao): “Não sendo, podemos contemplar sua essência”.

Objeto (Capítulo 1 do Tao): Sendo, apenas vemos sua aparência”.

O Deus, segundo o Evangelho são João, “é Espírito”. E, sabemos, o Espírito sopra onde quer.

Se me permitem um exemplo: Na máxima tensão, o Eu profundo de cada um de nós contempla, sem intenção, a seguinte cena prosaica: um bule que verte chá fervente na toalha de linho. A Coisa-em-si (que é libérrima e irracional por natureza) é que retém a potência profunda do que está acontecendo com este bule que verte chá fervente na toalha de linho. Se o Eu se intrometer nesta imagem do bule que verte chá fervente na toalha de linho, o Eu só terá a fantasia, a farsa, e se transformará num bicho peludo de longas patas, mais conhecido como ego. Por outro lado, se o Eu deixar fluir a Coisa-em-si deste bule que verte chá fervente na toalha de linho, aí o Eu terá a presença do Algo, do Deus que, respeitado em sua ancestralidade, virá à tona e revelará ao Eu todo o Seu Mysterium.

E sendo Mysterium, é improviso, é Vita Nova, é Algo, é o Deus, é paraíso, é jazz do coração.

Nunca é demais recordar a etimologia do vocábulo Deus: vem do sânscrito –, onde é grafado D'jeus e significa lua clara no céu: mente silenciosa, sem sonhar.

De onde se conclui que o Deus, tendo forma lunar, é o feminino.

O Deus, o Algo, é luz, é consciência.

A quem o Deus serve, a quem o Algo serve? A todo Eu que tiver consciência do Deus, do Algo.

Quando pronuncio a palavra feminino, não me refiro à mulher, mas ao Ser, que tanto pode ser macho ou fêmea.

Há homens que são mais femininos que as mulheres.

O cano do canhão é o pênis masculino; os edifícios pontiagudos são pênis masculinos; o punhal é o pênis masculino.

A árvore é feminina; a pérola é feminina; o vento é feminino.

A Coisa-em-si: aquilo que independe do espaço e do tempo.

A Coisa-em-si independe da causa e do efeito.

Segundo Platão, uma Idéia é aquilo que sempre é, mas nunca vem a ser, nem deixa de ser.

Idéia: objetividade imediata da Coisa-em-si.

Para Schopenhauer, a Coisa-em-si é pulsão vital (a Trieb freudiana: força vital). Pulsão como discernimento vital? Ainda mais: pulsão como discernimento vital do discernimento vital.

Pulsão (a partir de um aforismo de Lacan): objeto jamais fixável de uma vez por todas.

Fixar o que não pode ser fixado, isto é função da arte que cria a consciência que ilumina a Vontade.

Para Schopenhauer a maior das artes é a música. Ele a menciona em "O Mundo como Vontade e Representação": se tudo findasse, ainda não findaria a música.


O texto acima, inédito, é um fragmento do livro O cacto e o angorá (o aqui e o agora) – A arte vazia do arqueiro de palavras, de Fernando José Karl.

As belas da tarde


Mimi e Rô, protegidas do sol por um morcegão preto no Mercado Público de Floripa.


Capa de Casa de água.


Um dos grafismos de Casa de água.

A editora Letradágua está lançando
Casa de água
,
uma edição comemorativa de meus 25 anos de escritor.

Casa de água é uma antologia que reúne 200 poemas. Nessa antologia também foram incluídos 30 desenhos de minha autoria.

Eis os títulos que compõem o

Casa de água
:

1. Tema para romance;
2. No verão amadurecem os chapéus;
3. Desenhos mínimos de rios;
4. Diário estrangeiro;
5. Travesseiro de pedra;
6. Brisa em Bizâncio;
7. Se eu mesmo fosse o inverno sombrio.


Caso v. queira adquirir o livro

Casa de água
, é só entrar em contato com o Antonio, dono do Sebo Dom Quixote, na cidade de São Bento do Sul/SC, e solicitar um exemplar a ele através do

contato@sebodomquixote.com.br

Telefone do Sebo Dom Quixote: 47-3633-5365.

www.sebodomquixote.com.br

Detalhe: o Casa de água só pode ser encontrado no referido sebo.

O preço do livro é de R$ 30,00 + o valor do impresso registrado (que custa mais ou menos R$ 4,00).

Divulguem, por favor, essa minha proposta entre amigos e conhecidos, porque todos sabem o quanto é difícil vender livro nesse país das bruzundangas.

O melhor dos abraços.

Fernando José Karl

Ver 13 assombros

de Frank Rodick

Sem palavras


Manoel de Barros.

Ler Poemas de Manoel de Barros

http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.redutoliterario.hpg.ig.com.br/poesia/manoel1.jpg&imgrefurl=http://www.redutoliterario.hpg.ig.com.br/poesia/manoeldebarros.htm&h=420&w=300&sz=16&hl=ptBR&start=3&um=1&usg=__cDNk_ku2QjbwrPHmydGO7CiIjms=&tbnid=SgdaRk7hMxxsvM:&tbnh=125&tbnw=89&prev=/images%3Fq%3Dmanoel%2Bde%2Bbarros%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN

O MANTRA DE TARA VERDE

OM – TARE –

TUTTARE – TURE – SOHA – OM

São as qualidades do corpo, palavra e mente dos Buddhas.

TARE – "Aquela que liberta".

TUTTARE – "Que elimina todos os medos".

Os oitos medos causados pelas oito ilusões:

l. Apego (enchente).

2. Ira (fogo).

3. Ignorância (elefante).

4. Inveja (serpente).

5. Orgulho (leão).

6. Avareza (correntes da prisão).

7. Visões erradas (ladrões).

8. Dúvida (fantasmas).

TURE – "Que concede todo sucesso".

SOHA – "Que as bênçãos de Tara contidas no mantra se concretizem".

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Rodney Smith, sem data

Em lugar de olhos, dois nuncas. A noite é palavra unida à noite essencial. Um diamante iça, em lugar da morte, e da cisterna sombria acordo alado: sem amada, capinzal, mãe, pedra ou labirinto. Em lugar de respirar, a música me vela. A eternidade é o silêncio das tigelas de arroz. Em lugar de estar vivo eu sou um canto, enlouquecido por discordar do roteiro. É desconcertante morrer sem acariciar o pomo dourado da própria voz, e a lenda da pele, que acende com o toque dos dedos. É sempre absurdo não ter direito a um nome, a um quintal com pequenos pássaros intensos. Os erros são todos meus. A luz é toda tua. Quando eu não existir mais, eu também virei recolher os domingos que não passei à beira-mar.

Rembrandt (1606-1669)



Homer Simpson pintado por Rembrandt.


José Saramago.

Tem medo da morte?
Não, até agora não. Isso é uma coisa que nunca sabemos. Não vale a pena dizermos, quando estamos com saúde, «Não tenho medo da morte» e depois, quando sentimos que a situação é grave, podemos realmente ter. Antes do último instante a pessoa não sabe se vai efectivamente ter medo da morte ou não.

E do esquecimento?
Não vale a pena ter medo do esquecimento porque tudo esquecerá. Nada é imortal, nem pessoas nem obras.

Aterroriza-o escrever um livro mau?
Não. Talvez eu esteja enganado, mas creio que até agora nunca escrevi um livro mau. E se amanhã isso acontecer, das duas uma: ou eu chego ao fim do livro e reconheço que é mau e não o publico, ou então se eu não reconheço que ele é mau mas é mau, espero que alguém – a minha mulher, um amigo – me diga: «Aconselho-te a que não o publiques porque isto já não é o que tu fizeste antes, já está muito abaixo». E eu espero nessa altura ter suficiente senso para estar de acordo.

Quem será José Saramago daqui a 50 ou 100 anos?
O autor? Não sei. Quando há pouco disse que todos vamos em direcção ao esquecimento pode-me acontecer, como acontece tantas vezes, que ainda haja leitores que me leiam. Mas vamos pensar em 1000 anos: é duvidoso que ao fim de 1000 anos ainda haja pessoas interessadas em ler o José Saramago.

Considera-se um patriota?
Eu acho que é um sentimento que não vale a pena. O patriotismo presta-se a muita retórica e a muita confusão. Porque as pessoas podem dizer todas que são patriotas e terem por detrás motivos não só diferentes como opostos. Eu não quero nenhum mal ao meu país, pelo contrário quero todo o bem que seja possível. Se isto é ser patriota, eu sou patriota. Mas também posso ter momentos de indignação e de desânimo, quando vejo que o país não está a ser governado como devia. Agora não me pergunte como é que deveria ser. Mas quando eu vejo que estamos numa crise social e económica tremenda e ainda mais numa crise de mentalidade – uma espécie de apatia, uma espécie de indiferença – isso dói-me. Os países começam, crescem e acabam. Um dia acabará este. Vivamos o tempo em que estamos. Há pouco tempo, no Fórum Social de Porto Alegre, eu disse: «Se eu pudesse eliminaria dos dicionários e da consciência das pessoas o conceito de utopia». Porque o conceito de utopia fez mais mal do que bem. A gente põe a utopia num sítio qualquer longínquo, não se sabe onde, depois fala da utopia… A única utopia razoável que podemos falar é o dia de amanhã. O que fizermos hoje tem repercussões no dia de amanhã e essa é a única utopia.

Para que serve um romance?
Para muitas coisas. Em primeiro lugar, porque toda a gente desde sempre gostou de contar histórias e gostou de ouvi-las, e, enfim, um romance é uma história. E depois se serve para alguma coisa mais, isso logo se vê...